JOSÉ MARCIANO GOMES BAPTISTA
(Padre)
( Brasil – São Paulo )
Era natural de Sabará, donde foi para S. Paulo com o duplo in- tento de tomar ordens sacras e formar-se em direito.
REVISTA DA SOCIEDADE PHILOMATHICA. Typographia do Novo Farol Paulistano. S. PAULO. Edição fac-similar patrocinada pele Metal Leve. São Paulo: Companhia Lithographica Ypiranga, 1977 Apresentação de Antonio Soares
Amora. Inclui o no. 1, 2, 3, 4, 5 e 6 de 1833.
Edição facsimilar de original de 1883. Ex. bibl. Antonio Miranda
PARTE 1ª.
LITTERATURA
Ultimos momentos de uma jovem de Madagascar chegada a
sacrificar seu filho ao Deus Niang. (*)
Selvagem povo habita a terra inculta,
Que de Madagascar conserva o nome;
Aqui n´um campo de jasmins, de rosas,
Bordado de mimosa, e fresca relva,
Edificarão rustica choupana
Pastor e Nimpha, a quem amor prendera.
Sua doce união sígnaes ja dava
De um fructo, que as delicias requintando ,
Mais felices fisera os dous amantes,
Se mais felicidade haver podesse.
Nestes instantes de prazer tão puro
Ignorava a infeliz, que não mui longe
Estava de seu mal o dia infausto;
Que a prenda, que trasia nas entranha
Ennuviado futuro lhe anuncia
Sim: não tardou, que o fado carrancudo
Viesse perturbar a paz dourada
D´aquelles sítios, dos logares bellos ,
Onde vivia amor, onde os prazeres.
Nesta terra cruel por sacro rito
Se adora como Deus Niang terrivel,
E em honra de Nianga por lei prefixa
Ali se imola a tenra criancinha,
Quando em dia infeliz à luz é dada.
Que magoa acerba, que terrivel pena
Vai tua alma rasgar, misera amante!...
Chega o dia fatal: o sol se esconde ,
A´ natureza fogo: em toda a parte
Horror, e confusão: oh! neste dia,
Neste dia cruel eis se avizinha
A hora, em que ser Mãi devia a Nimpha
Que os campos alegrava. Ó quanto é bello
Ver de uma Mãi nos braços reclinado
Copia fiel do esposo, amado filho!....
Quanto é fero o momento, em que a fortuna
Dras de gloria muda em negros dias!
Misera humanidade! O! como è rara
A duração do bem! Este inocente
Mimoso fructo de união tão doce
Victima deve ser, que acalme as iras
De um Deos de raiva, de furor, de sangue !
O! barbaro costume ! O! Deos tyranno !
O tributo recebe, que te paga
Povo feroz, e deshumano, e cego.
A desditoza Mãi banhada em pranto ,
Com duvidoso passo as margens busca ,
Onde corre o Niang. Beijando o filho
Contra o peito o aperta, e compassiva
N´esta expressão sentida assim lhe falla:
Tu choras, Ó meu filho ! ah ! não : não chores....
Se lagrimas valessem, quantas lagrimas
Eu derramara por salvar-te a vida !
Mas se a vida te poupo, quanto males
Tens a sofrer ? do sol a chama activa
Aos mais entes benigna, a ti funesta ,
De seus jardins dourando os doces pomos,
Tua messe secarà : da terra embalde
O seio rasgarás: madrasta ingrata
Hade de só te offerecer mirradas folhas....
Teo rosto macilento, os olhos fundos
Serão da feia morte imagem feia...
Que serie de tormentos ! quantos males....
Ah ! não consentirei, que os soffras..... morre,
Morre , meu filho.... O´ Deos !.... morrer meu filho?
Eu Mai.... Eu mesma algoz ? .... O ! que combate
Minha alma dilacera ! A natureza
Brada de um lado , de outro lado a força
Da lei cruel, que o coração me oprime.
Cruel Niang, porque meu seio abriste ! ?
De lei tão saneta a execução retardo ! ?
Não : não mais se demore o sacrificio....
A natureza cede aos teus decretos,
Niang, já te obedeço ; eis o meu filho,
Diz, e arrojando o filho às ondas.... morre.
(*) Peça apresentada a Sociedade, com correcções indicadas e aprovadas pela mesma.
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Publicado em dezembro de 2022
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